terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O INEXPLICÁVEL NÃO SE EXPLICA

 
Percorrer as mesmas ruas tornou-se entediante. Ver lojas a fechar a cada dia que passa ficou recorrente, mas nunca desistiu de fazer o mesmo caminho. 
Numa das suas tradicionais jornadas o homem de cabelo farto e espesso, de olhos cinzentos e pele bronzeada, encontrou uma inequívoca razão para travar a sua marcha. Diante de si uma mulher elegantemente vestida espreitava, minuciosamente, para o interior de uma ourivesaria fechada. Ele aproximou-se, estrategicamente, e ficou atónico a olhar para o vidro, tentando captar o reflexo da jovem mulher.

Subitamente, ela abriu a velha porta que rangeu de tanto desuso. Com os seus sapatos de cor escarlata, cada passo que dava era o aproximar sorrateiro do homem musculado e seco. Os seus olhares encontraram-se numa sala anexada ao balcão de serviço da loja. Numa espécie de escritório, com poucos metros de espaço, aquilo que apenas se via passou a ser tocado. Aquilo que parecia ser uma primeira vez cambiou para um reencontro. Jamais trocaram uma palavra, mas continuamente ao longo de dias, semanas, e meses, a atracção tornou-se descontroladamente inexplicável.

Sem razão lógica os seus braços fortes, e as suas mãos rudes, foram de encontro aos seus joelhos esculpidos em linhas disciplinadas . Em movimentos vorazes o seu vestido subiu trepidantemente. Ela, com suas mãos suaves e uma textura de pele agradavelmente doce, apoderou-se do seu corpo. Os seus dedos percorriam e puxavam de forma contínua os seus cabelos. E numa altura em que gemiam e aclamavam a sua conquista, os dois foram exauridos de corpo e alma. Os seus longos cabelos descolados para trás da secretária, sua boca encostada à dele, seus corpos humedecidos pelo prazer, e sem pronunciarem uma única palavra, alcançaram um oásis inexplicável.