segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Não há solução para deixar de amar

Quando alguém erra deve surgir o perdão. Quando alguém suspende o sorriso deve surgir um porquê. Quando alguém chora ... é ...  abraçar a pessoa fortemente, e esquecer tudo o resto.

Amar implica prescindir dos nossos ressentimentos, e dos erros que o outro cometeu. Quando se ama de verdade prescinde-se da memória, e eterniza-se o voto. A ligação não é eterna, mas dificilmente o sentimento desaparecerá, apenas ficará suspenso no tempo.

Amar alguém implica entrega total, sem pensar no dia de amanhã. Não interessa o que temos de fazer, a sua felicidade está sempre acima da nossa. Ligado a uma pessoa significa pensar nela a cada minuto que passa, quando o seu nome se sobrepõe a tudo o resto, quando desejamos fazer tudo por ela, quando existe apenas uma solução, e a única opção é salva-la.

Pode amar-se mais do que uma pessoa. Sim, claro que se pode. Há solução: só para as ajudar e estar lá sempre que elas desejarem. A separação acaba sempre por acontecer, mas o sentimento nunca desaparece. Mesmo que nós queiramos, o nosso coração não obedece.

Lá está, a dor de sentir...
Amar é inexplicável ...


Dia após dia, a menina de olhos castanhos, cabelos claros e encaracolados, se sentava naquele banco há mesma hora, no exacto local onde viu partir quem mais a queria. Não perdeu a esperança no regresso, na vinda do tão desejado... Mantinha o mesmo olhar, distante e focalizado no horizonte.

Onde habitualmente se sentava via idosos de mãos dadas, ouvia gargalhadas, crianças a brincar, gaivotas a sobrevoarem os céus, o mar revoltado numa luta contra si mesmo, e no fim guardava o estalido das ondas nas rochas, cada vez mais decalcadas pelo tempo.

Ela permanecia quieta no seu porto de abrigo, mantinha a rigidez do seu rosto, não soltava um sorriso, um suspiro, nem simplesmente uma palavra de revolta ou alívio. Dias, meses, um ano passou. As pessoas já não eram as mesmas, o sol escondia-se envergonhado, a noite trazia consigo o frio que a arrepiava, e que a fazia relembrar. Ouvia a música, sempre quando o sol se punha. A mesma música, todos os dias sem excepção. As suas mãos gelavam, os seus dedos mal se sentiam, a sua boca carregada de feridas, e os seus olhos começavam a brilhar cada vez que a ouvia.

Sem cansaço, sem dor, sem nostalgia, aquele momento trazia-o de novo à memória. Relembrar as sombras, a imagem que a fez feliz, a música que os unia, as suas últimas palavras de felicidade. Ela sorria timidamente, contra a força de seus dentes que tilintavam, e cada vez que a letra chegava ao fim somente via pequenas lágrimas a escorrer pela face que ,sorrateiramente, o vento se encarregava de as levar.

Aquilo que ela não exprimia, a canção dizia. Após o dia da sua partida, ela relembrava-o. A esperança mantinha-se, e sempre no mesmo local, ela esperou ansiosamente pelo seu regresso.