Poucos dias decorreram após a assinatura do divórcio. Começou por deglutir uma mágoa profunda, antecipou uma tentativa de suicídio, e regozijou-se com uma caixa de depressivos. O passado pelo qual denominou de catastrófico, foi somente uma pausa, um intervalo entre o pôr-do-sol e o nascer de um novo dia. Atravessou um estado de ira, fixou nostalgia ao seu redor, colou-se ao desprezo, e por fim, resumiu a sua derrota numa desilusão, numa aprendizagem sem retorno.
Tudo isto não é mais do que um capítulo numa gigantérrima epopeia. Não valerá a pena rasgar o livro, se apenas uma resma de páginas estiver mal escrita. Para quê destruir, se basta modificar o insólito. Ser radical, criar sentimentos exacerbados, movimentar avalanches, apenas aumentará o risco de hematomas malignos, dores efémeras, mas com efeitos colaterais mais complexos, e uma revolta que indesejável e escusada, deixará o ser humano mais insuportável do que ele já é.
Terminar uma partida e reconhecer o desaire é meio caminho andado para conquistar a próxima batalha. Congratular o inimigo em vez de o insultar não é burrice, é antecipar a próxima jogada. Ser paciente e racional não deve ser opcional, mas caminho fulcral para atingir a vitória seguinte. Apagar o passado é um erro, aprender com o mesmo é sinónimo de sabedoria. As pessoas são a nossa maior desgraça, mas igualmente a preciosidade em peso bruto. Quem desiste de perceber o nosso semelhante é fraco, e esconde-se na sua superficialidade. Devemos aproximarmos, regozijar com a presença de outrem, e saber recolher os melhores frutos de quem está próximo de nós.
Um pequeno segredo: o defeito é banal, as virtudes são raras. Ser exageradamente racional é burrice. Ser um puro sentimentalista é herança proibida. Aventurem-se, não perguntem o porquê, quem sabe o que ainda irá descobrir no estranho mundo da diferença. Talvez a cura da sua dor!