segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A QUEDA DA IMPERATRIZ


A sua autoridade caíra por terra. Os seus lábios escurecidos, sua pele tornara-se fria, o seu eu já não reflectia conforto, nem a estranha sensação de conquistar o sonho. Preparava-se, em pequenos compassos, para a gala, aquela em que vestiria a máscara, talvez pela derradeira ocasião... aquela que ruiu, como um colapso, na noite anterior.

Ela sabia os caminhos que percorria quando se aventurou naquela estrada perversa, mas que a consumou de forma voraz. A mulher que vestia sobranceria, e se maquilhava habitualmente com a sua tenacidade, despiu a sede de poder pela fome do prazer, que lhe escapou por mais de duas décadas.
A sua rigidez foi desmascarada, e envolta num corpo que a arrebatou, e desmistificou o rosto vingativo que a sobrecarregava diariamente. 

A maldade, e o súbdito desejo de corromper a vontade alheia fundiram-se na mais dramática, e especial vitória do seu querer,  da sua ambição... O seu estrelato de ódio e sarcasmo mergulharam na exaustão do orgasmo, no perfume que a cobriu de uma estranha e nova felicidade. Tudo o resto passou a supérfluo. Aquilo que um dia se tornou prioridade se transformou em migalhas obsoletas.

Os seus vestidos permaneceram negros, mas a nostalgia escapou para outros labirintos, o seu charme tornou-se eloquente, a magia cobriu-a, e a dama negra deu asas ao belo cisne. A cor pouca importa para definir tudo aquilo que conquistou numa noite. Mas o seu olhar voltou a reluzir um óasis raro de felicidade.

Para quê atravessar um caminho de tumulto. Ela manteve a volúpia, mas não se apaixonou pelo ódio da vingança, apenas diluiu a revolta no desejo de querer mais um sorriso. Se há mágoas que não desaparecem, há prazeres que esperam por nós. Não evitemos uma conversa, criemos um novo assunto, não sejamos acéfalos e descartemos alguém, sejamos sábios e encontremos a semelhança. A Imperatriz não é uma virgem ofendida. A astúcia define o seu poder, e a sua inteligência designa a duração do seu reinado. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O MELHOR É AQUELE QUE NÃO DESISTE, AVENTURA-SE!


Poucos dias decorreram após a assinatura do divórcio. Começou por deglutir uma mágoa profunda, antecipou uma tentativa de suicídio, e regozijou-se com uma caixa de depressivos. O passado pelo qual denominou de catastrófico, foi somente uma pausa, um intervalo entre o pôr-do-sol e o nascer de um novo dia.  Atravessou um estado de ira, fixou nostalgia ao seu redor, colou-se ao desprezo, e por fim, resumiu a sua derrota numa desilusão, numa aprendizagem sem retorno.

Tudo isto não é mais do que um capítulo numa gigantérrima epopeia. Não valerá a pena rasgar o livro, se apenas uma resma de páginas estiver mal escrita. Para quê destruir, se basta modificar o insólito. Ser radical, criar sentimentos exacerbados, movimentar avalanches, apenas aumentará o risco de hematomas malignos, dores efémeras, mas com efeitos colaterais mais complexos, e uma revolta que indesejável e escusada, deixará o ser humano mais insuportável do que ele já é.

Terminar uma partida e reconhecer o desaire é meio caminho andado para conquistar a próxima batalha. Congratular o inimigo em vez de o insultar não é burrice, é antecipar a próxima jogada. Ser paciente e racional não deve ser opcional, mas caminho fulcral para atingir a vitória seguinte. Apagar o passado é um erro, aprender com o mesmo é sinónimo de sabedoria. As pessoas são a nossa maior desgraça, mas igualmente a preciosidade em peso bruto. Quem desiste de perceber o nosso semelhante é fraco, e esconde-se na sua superficialidade. Devemos aproximarmos, regozijar com a presença de outrem, e saber recolher os melhores frutos de quem está próximo de nós. 

Um pequeno segredo: o defeito é banal, as virtudes são raras. Ser exageradamente racional é burrice. Ser um puro sentimentalista é herança proibida. Aventurem-se, não perguntem o porquê, quem sabe o que ainda irá descobrir no estranho mundo da diferença. Talvez a cura da sua dor! 



domingo, 10 de fevereiro de 2013


A FALTA QUE ME FAZES


Alguém um dia atribuiu a palavra amigo à(s) pessoa(s) que nos complementam. Aos que dão, aos que tiram, aos que marcam, aos que se resignam, aos que dão esperança, aos que se resumem a episódios efémeros, e simplesmente aos únicos que dão a vida para nos terem.

Sem explicação racional, ele percorre um labirinto, uma justificação, porém ela não existe. Numa peça diferente das restantes, o dominó ganhou nova direcção, uma injecção de confiança suplementar, o alguém a quem designou “amigo, irmão e, igualmente, pai” acrescentou nele um semblante de magia, carregado pelo olhar, pela protecção, pelo laço que os uniu. Se não há explicação para o inenarrável, então torna-se ainda mais complicado decifrar tamanha relação.

Amigo escreve-se com “A” maiúsculo, quando aquele que banalmente o acompanha na sua rotina decide acrescentar momentos de vitalidade, suportar a sua dor, a sua ira, a nostalgia suprema, e que é capaz de o reverter em algo diferente do imaginável. Ele está lá para o trazer, a partir de um oásis escondido no vazio, de regresso à superfície.

 Mas a redoma não é feita de chumbo e os vidros que a cobrem, simplesmente se  partem com a mesma facilidade a que se juntaram. Num rasgar de surpresa, aquilo que foi  alegria exacerbada, se dilui em mágoa, e doravante tornar-se-á uma saudade dissolvida pelo tempo.

Um pequeno segredo: devemos guardar sempre o melhor daquilo que nos dão, o pior foi só uma falha, com maior ou menor sofrimento. As feridas saram, a cicatriz fica, mas os momentos de extrema exultação, ninguém nos tira da memória.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CEMITÉRIO DE DRAMAS


Quem inventou a estirpe humana devia ser condenado ao exílio. Vamos lá ver, o ser a quem todos denominam como ser intelectual, dotado de capacidades exclusivas, tornam estes "lords do universo" num pedaço de carne e osso temido por todo o Reino Animal. A aberração para além de matar e violar a liberdade alheia (algo que já é banal no mundo selvagem), desfaz o seu próprio habitat em cinzas.

O ser humano precisa de comer, beber, reproduzir, ser amado, socializar, e tudo aquilo que faz um de nós igual a tantas outras espécies. Todavia o meu semelhante procura envenenar, enraizar dor, catapultar revolta, transformar pequenos abismos num cataclismo global. Aquilo que todos idolatram - o sentimento - pelo qual extravasamos mil e uma cores de amores e dissabores converte-se num simples toque de mágica, na maior peça de drama. 

O ser humano quando nasce, se desenvolve, e enlouquece com o passar dos anos deveria aprender a racionalizar tudo o que sente. Chega de questionar, de aclamar a sua demagogia, de pedir clemência ao seu inimigo, de regozijar tudo para si, de se satisfazer apenas com a dor de outrem.

O amanhã poderá transformar o pior inimigo no melhor aliado, tornar o fruto a quem chamamos proibido no nosso maior e mais desejado apetite carnal.

O ser humano deve aceitar o próximo desafio, negligenciar a sua mágoa, mergulhar na sua imaginação, e jamais recusar um convite. A sua presença deve tornar-se assídua, seja em que palco for, porque o dia que nos espera após o despertar poderá  reservar-nos uma esquizofrénica surpresa.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Afinal o que é uma relação?


Conversa ali, conversa acolá, beijinho mais acima ou mais abaixo, com maior ou menor intimidade ...
Uns apostam na liberalização, outros num regime ditatorial, havendo nichos que se inclinam para casos extra-conjugais, complementados com relacionamentos a três, a quatro, enfim o que der mais satisfação e arcaboiço ao casal.

Na classe dos comprometidos deparo-me, diariamente, com vários detalhes que definem estes conjuntos binários. Vislumbro ciúmes, sorrisos, gargalhadas, manifestações de afecto, que vão desde o mais singelo abraço ao beijo mais requentado e prolongado. Existem as lágrimas, o simples dar de mão, o carinho facial, o abraço mais ternurento, ...

As personalidades de cada um definem a simbiose do relacionamento. A junção dos dois impele comportamentos distintos, consoante os moldes em que cada um se insere e caracteriza.

Talvez o mais importante. Uma causa advém uma consequência. Um gesto, ou a ausência do mesmo, dá origem a uma sequela. Não se trata apenas de ciúme, mas de expectativa, daquilo que estamos à espera que a outra pessoa faça por nós. Um mês de ausência, uma mensagem ignorada, uma chamada recusada, uma data esquecida, e uma relação guardada numa gaveta... não foi terminada, mas alguém ou os dois se esqueceram de algo. Amar-se reciprocamente. Mas o revés também existe. Se os dois pactuarem neste silêncio, e reencontrarem a alegria e a satisfação, quem os irá recriminar pelas duas semanas em que não se falaram?

O mais importante é o prazer mútuo, a forma como as partes irão lá chegar varia. As personalidades de cada um definem o rumo, mas há várias direcções para chegar ao fruto mais apetecido.