Amar é inexplicável ...
Dia após dia, a menina de olhos castanhos, cabelos claros e encaracolados, se sentava naquele banco há mesma hora, no exacto local onde viu partir quem mais a queria. Não perdeu a esperança no regresso, na vinda do tão desejado... Mantinha o mesmo olhar, distante e focalizado no horizonte.
Onde habitualmente se sentava via idosos de mãos dadas, ouvia gargalhadas, crianças a brincar, gaivotas a sobrevoarem os céus, o mar revoltado numa luta contra si mesmo, e no fim guardava o estalido das ondas nas rochas, cada vez mais decalcadas pelo tempo.
Ela permanecia quieta no seu porto de abrigo, mantinha a rigidez do seu rosto, não soltava um sorriso, um suspiro, nem simplesmente uma palavra de revolta ou alívio. Dias, meses, um ano passou. As pessoas já não eram as mesmas, o sol escondia-se envergonhado, a noite trazia consigo o frio que a arrepiava, e que a fazia relembrar. Ouvia a música, sempre quando o sol se punha. A mesma música, todos os dias sem excepção. As suas mãos gelavam, os seus dedos mal se sentiam, a sua boca carregada de feridas, e os seus olhos começavam a brilhar cada vez que a ouvia.
Sem cansaço, sem dor, sem nostalgia, aquele momento trazia-o de novo à memória. Relembrar as sombras, a imagem que a fez feliz, a música que os unia, as suas últimas palavras de felicidade. Ela sorria timidamente, contra a força de seus dentes que tilintavam, e cada vez que a letra chegava ao fim somente via pequenas lágrimas a escorrer pela face que ,sorrateiramente, o vento se encarregava de as levar.
Aquilo que ela não exprimia, a canção dizia. Após o dia da sua partida, ela relembrava-o. A esperança mantinha-se, e sempre no mesmo local, ela esperou ansiosamente pelo seu regresso.
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